E já não havia carícia
só aquele nó engasgado
um pigarro de desajeito
uma camisa amarrotada e suja
E já não havia brilho no olho
antes um olhar disperso, abduzido
pelo tempo da espera perdida
mascando as horas de indecifrável dor
E já não havia jeito ou conserto
tem certas lágrimas que não se enxugam
tem certos tempos que não voltam
E então o que havia era tormento
Hora de sono epilético, febril
quando a noite vem ceifar o sorriso
a morte recobre a pele dos sonhos
é tempo de devaneio mudo
No mais é a passagem
paisagem que dança lútea as horas
o corpo e a música discutem
e dois olhos baixos vão embora.