sexta-feira, 23 de abril de 2010

dança das palavras

Tem um quê em nós dois
que sempre diz adeus
quando quer dizer oi.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Do you know me?

Sussurro show me from behind the wall

O que quero é tua boca me benzendo o corpo inteiro
No mais mundano dos rituais profanos
O que quero é morrer desse desejo
Desfalecer meu gozo no teu peito
Porque assim morrendo, renasço
No sorriso jocoso quando os olhos se encontram
E na tua carne tremendo, embarco
No embalo guloso de línguas e dentes.
Quero seguir teus pelos numa estrada
Que me leva aos teus perfumes mais íntimos
E no perder-se das horas na madrugada
Agarrado em ti, esquecer-me do tempo.

Peço show me from behind the wall

Que a tua boca já é pra minha
Um repouso doce e quente
Ou onde o fogo da volúpia
Vem dançar alegremente.
Que os teus gemidos me são
A prece mais que perfeita
A canção que me embriaga os poros
E me mima uma noite inteira.
Pois que quando chegou a manhã
No teu abraço encontrei os sonhos
Pra despertar depois com fome
E me saciar nos teus encantos.
Não te preocupas delícia
Que eu confesso pois
Não quero matar-te senão com o gozo
Com que me mato e renasço sendo nós dois.

Grito show me from behind the wall

quarta-feira, 14 de abril de 2010

AMARGO

Vou rasgar de vez a pele
e desistir desta integridade de vidro
vou deixar transbordar a merda
que encabulado insisto esconder.

Vou cortar as pálpebras
sem sono, sem sonhos pra não distrair
a vida é dura e pouco doce
não quero pipoca, cansei de assistir.

Vou arrancar de vez as calças
nunca fui puro, nem mesmo menino
entrego os pontos, já não há jogo
a poesia está acuada num canto imundo.

Vou partir minha face e meus pulsos
pra quê verdades, pra quê discursos
se caindo enfim percebo que nós
brindamos sorrindo essa falta de rumo.

Vou cravar minhas unhas na terra
(num dos raros lugares que o cimentou não sufocou)
pra sentir só um pouco meu berço póstumo
do qual em vida saudades começo a sentir.

Vou calar de vez minha boca
ou chorar o abandono de qualquer crença ou redenção
o chão do meu coração eu sinto frio
e encolhido em mim resvalo sombrio .

Me bato, me rebato convulsivo
o mundo é mais que injusto
é este surdo e implacável constructo
que nos rouba da vida o motivo.

Me cobro, me saboto sozinho
porque cedo aprendi que é tudo minha culpa
sou eu o único responsável pela minha desgraça
enquanto com esta crença alguém lucra.

Me desisto, me aborto desiludido
de que me adianta esta etiqueta de indivíduo
sou parte do lodo amontoado no canto
que será removido tão logo atrapalhe o caminho.

Me perco, me lanço perambulando
tenho migalhas de sonhos nos bolsos
com elas nada compro ou digo
sou o próprio resto de um projeto de homem.

Mas destes cacos, destes pedaços
insistentes, encrudecidos de dor e luta
pode surgir algo que o mundo não projetou
que traz no sangue a poesia bruta.

A poesia crua, descrente na salvação divina
a poesia obscena de corpos e gemidos
a poesia sem pressa, mas urgente
vou abrir enfim as pernas, me atravesse.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Reza (ou o segundo da boca)

rapaz eu quero sua boca
e colado a ela adormecer
convulsivo de sonhos e desejos

rapaz eu quero sua boca
e os teus braços me contendo
enquanto derreto em você

rapaz eu quero sua boca
no instante em que me entrego,
em você alegre me perco

rapaz eu quero sua boca
na noite das horas dilatadas
gemendo febril o meu nome

rapaz eu quero sua boca
numa viagem doce e rouca
abandonados no nosso suor

rapaz me dá a sua boca
pra eu usá-la de adorno
em cada parte do meu corpo

rapaz me toma pelos lábios
e me bebe como o vinho
que me agrada me afogar
no mar da tua saliva

rapaz me prenda nos teus dentes
num lapso que é dor e carinho
me forre a pele com a língua quente
me sorva urgente e sem pudor

rapaz eu quero você

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Aos traidores

Me diverte a demora da espera
saber que caminhas vindo a mim
com tua faca e garfo em punhos
louco pra meu fígado digerir.

Me deleito em anedotas
que faço jocoso sobre nós
eu de peito aberto te confronto
você com o punhal à espreita.

E num abraço semi-fraterno
nossos risos nervosos dissonam
a tensão em sua face revela
o intuito do golpe fatal.

Me diverte saber que tu companheiro
enquanto danças entretendo
a platéia desavisada e omissa
se prepara para mostrar a que veio.

Maior que a certeza da morte
que virá das tuas mãos descrentes
é meu gozo de saber que podes matar a mim
mas nunca as idéias que me movem.

Memorial do quarto escuro

E assim eu
sozinho e mudo
sem saber
servia ao mundo.

Das bordas surdas
do meu quarto escuro
meu grito calava
por medo de romper
uma suposta harmonia
uma pretensa ordem
as leis divinas
o bem comum.

E mesmo obediente
imóvel e amável
no chão dos meus dias
me despedaçava.

E mesmo crente
amável e imóvel
rezando na febre
pra algum deus me colar.

Eis que à meia-noite
de uma noite qualquer
gerada ao longo
de tantas outras noites
abri a porta e gritei
transbordando de minhas fissuras.

Janelas se abriram
faces suspensas
silêncios pálidos
confessados meus pecados.

E qual foi o meu espanto
tão logo descobri
não eram meus os pecados
mas do mundo aos pedaços
diante de nós a ruir.