terça-feira, 30 de março de 2010

tomara que caia

NOVOS RUMOS
VELHOS MUROS

De que adiantam
os novos rumos
se em pé permanecem
os velhos muros?

Ou para cada muro que cai
outro é erguido, invisível
entre eu e você,
entre a inteligência
e o dia a dia correndo pra sobreviver

A liberdade está cercada
é preciso pagar pra ver!
o tempo está em alta
é preciso pagar pra ter!

Mas com certeza
uma nova grande idéia vai surgir
com a missão de enterrar
todos os gritos que não paramos de ouvir

-Ligue o som querido
hoje a noite está agradável.
Não será da rua o gemido
que nos furtará o lar confortável!

Mas com certeza
novas idéias não calarão
a velha pergunta insistente
Por que pra uns, pra outros não?

Ou por que continuamos
dançando este mantra absurdo
absortos pelas urgências
de um mundo que nos mantêm famintos?

Cuspamos os novos rumos
Empurrados goela abaixo
Derrubemos os velhos muros
A liberdade será de todos
ou não será.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Boca

A boca é sem dúvida
o mais erótico dos órgãos
pois com ela sorvo atento
cada um dos seus gostos.

É dela que exala
o feitiço do teu hálito
que umedece minha face
e preenche nosso silêncio.

São as bocas a gemer
que pertubam toda ordem
desarrumam os discursos
e se entregam à sua sorte.

É com a boca bem lasciva
que vou entregue
lábios e língua
teus relevos tatear.

É no íntimo mais escuro
que a boca vem dizer
cada uma das texturas
que o olho não sabe ver.

E até mesmo é a boca
que ouve, febril e louca
quando suspira uma outra
para juntas se fecundar.

São as bocas esses frutos
trêmulos e brutos
que coroam o absurdo
de dois querendo um só ser.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Dúvida insistente

Que mundo é este
em que só me sinto vivo
quando luto contra ele?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Nu

Quando duvidares que te quero
pergunta ao vento.
Porque ele ouviu em silêncio
Meu corpo suspirando ao te ver.
Ele ouviu o soluço abrupto
quando calei teu nome em mim
tantas vezes que o fiz
pra não me denunciar.
E se não sabes o que sinto
pergunta ao vento.
Que ele passando por mim
segurou-me pelos ombros
pra eu não me atirar sobre você.
Ele, companheiro invisível
amigo incógnito no percurso
foi testemunha paciente
de cada tropeço que dei
distraído ao te ver.
Ele, o vento
que tudo toca e que ninguém pode conter
carregou meus devaneios a teu respeito
e ouviu minhas preces sem ter o que dizer.
Ele, o desejo
que em todos nasce e que ninguém pode prender
regeu meus passos diante de você
numa dança de espera e saudade.
Nós, eu e o vento
vagamos nossas vidas sem pedir um único porquê
pois são muitas as razões, as delícias e as paixões
que nos movendo, nos transmutam
no que o mundo jamais pode prever.
E destes tempos jamais sonhados
me cabe a busca de viver.
Quem sou, já não importa tanto.
Pergunta ao vento.
Ele deve saber.

Outro

Baby, entenda
Eu não sou item de lista
Nunca coube em uma lauda
Nem nunca hei de caber.
Nem me encaixo no kit
carro, casa, emprego
Não sou o bem afetivo
Que te completará.
Não te esperarei arrumado
No sofá ao fim do dia
Não serei do teu álbum
A última figurinha.
Não sendo colecionável
Não fico bem na prateleira
Numa vida ordenada
Tendo sempre a destoar.
Não sou peça rara
Pra ser conquistado
Pois que não me contento
Em ser fabricado.
Pois que não me contenho
Nas grades cotidianas
Me debato orgulhoso
Quanto e enquanto puder.
Não me agrades sem porquê
Não me minta adjetivos
Apenas me olhe e saiba
Que de “meu” jamais me chamarás.
Pois se existe o amor
Ele preza pelas asas e sonhos
Que despertos ou em sono
Todos trazem em si.
Não queira me plantar do teu lado
Que minhas raízes não são daqui
Não se alimentam deste mundo
Nem do que ele chama ser feliz.