Está caindo.
Mais um pedaço de um eu está caindo.
Daquele eu que se portava, se comportava em modos dados.
Estilhaçou no chão.
E não sinto saudades.
Sinto urgência.
É medo e raiva misturados num turbilhão de sangue.
Palpitam nervos buscando seu próprio curso.
As costelas se expandem numa dimensão desobediente.
Os cacos do eu que já não sou se debatem num último espasmo.
É hora de voltar à terra, ser corpo de outro ser.
Dos seres pelos quais clamam os dias e as noites.
O tempo pede mais.
Insaciável mais.
Mais um passo.
Mais um pedaço.
Mais uma camada.
É como um canto que o eu que sou já não pode (e não quer) fingir que não ouve.
É o prenúncio de muitas mortes.
É o proclame da vida.
Vida pura, crua, sem amarras.
O eu que sou olha os pedaços do eu que era:
Ficam melhores no chão.
As carapaças se vão.
O vento acaricia a pele recém-parida.
E num passo urgente, sigo a rota dos nervos.
E eis que um novo pedaço antigo se lança.
O que me leva a loucura, me leva a um novo eu que não conheço, o que me puxa ao abismo, é justamente a certeza das asas.
domingo, 6 de setembro de 2009
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Um pé que espera o outro na saída
Sempre achei a imagem de um coração partido deveras piegas, mas só sentindo a dor do fim para perceber que a imagem é perfeita. O fim tem a iminência de um monte de coisas querendo transbordar pelas frestas que vão se abrindo no coração. Como se a vida represada em nome de algo não pudesse mais se conter. Mas como doem as frestas. Como dói perceber que a vida represada espera em vão. Que os sonhos que tece na esperança do porvir são uma teia de ventos, que as mãos não podem segurar. Contudo o vento corre o mundo, vai da brisa ao tufão, do carinho ao despedaçamento, para lembrar que a vida é movimento e que mesmo a vida represada um dia tem que ganhar o além mundo das paredes de um coração para se por à prova, a perigo, à iminência de existir sem garantias. Um coração partido dói, mas dói muito mais tentar conter as fissuras do tempo que pedem mais.
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