domingo, 6 de setembro de 2009

Adubo

Está caindo.
Mais um pedaço de um eu está caindo.
Daquele eu que se portava, se comportava em modos dados.
Estilhaçou no chão.
E não sinto saudades.
Sinto urgência.
É medo e raiva misturados num turbilhão de sangue.
Palpitam nervos buscando seu próprio curso.
As costelas se expandem numa dimensão desobediente.
Os cacos do eu que já não sou se debatem num último espasmo.
É hora de voltar à terra, ser corpo de outro ser.
Dos seres pelos quais clamam os dias e as noites.
O tempo pede mais.
Insaciável mais.
Mais um passo.
Mais um pedaço.
Mais uma camada.
É como um canto que o eu que sou já não pode (e não quer) fingir que não ouve.
É o prenúncio de muitas mortes.
É o proclame da vida.
Vida pura, crua, sem amarras.
O eu que sou olha os pedaços do eu que era:
Ficam melhores no chão.
As carapaças se vão.
O vento acaricia a pele recém-parida.
E num passo urgente, sigo a rota dos nervos.
E eis que um novo pedaço antigo se lança.

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