quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Febre ao meio dia

Hoje de manhã
minha única certeza
eram umas poucas lágrimas
que pesadas, quase sólidas
caíam dos olhos.

Tudo mais era o incerto
esta sensação de que sou
a sucata do que um dia quis ser
num silêncio pousado em dor.

E um peito aceso, atento
vivo por mais um momento
quanto dura uma noite em mim?
quando um sol enfim vai surgir?

às vezes eu queria que a vida fosse uma roupa
que eu despisse vez em quando
e fosse só uma nudez
suspensa e leve

às vezes queria demolir meu coração
e começar tudo de novo

porque às vezes o desencontro pesa o tamanho
do mundo e suas razões burras

outras horas tem a asfixia dos meus medos,
que me deixam nesse vácuo de melancolia
e saudade do que nunca fui

E quando o sinal fica verde
enxugo a lágrima do queixo.
É preciso seguir.
Sim, seguir.
Há um plano,
um projeto de vida,
há contas a pagar,
trabalho a fazer,
sonhos pra deixar pra depois.
Engulo a saliva que é grossa
como o concreto que,
pouco a pouco me toma os poros,
as idéias, os olhos.
- É preciso ser um edifício sólido.
- E nunca cair em público.
- É preciso não envergonhar os seus.

Mas enquanto me debato com estas mentiras
que a mim chegaram pela inércia dos fatos
dos meus poros surge o pus
que este mundo me infecciona.

E se me chamam de romântico,
afirmando que desejo salvar o mundo
eu convido: olhem melhor!
que não é este meu intuito.

Trago comigo uma espada
pra atravessar o ventre moribundo
dos bons costumes e da ordem
que sustentam o tal mundo.

Sucumba com seus padrões
seus preceitos que só servem à castração!
Uso a lâmina da espada pra limpar meu pus
e como posso continuo a lutar

Mas não o faço sozinho
tenho a meu lado um exército
dos que insones e inquietos
vem se levantando num só grito.

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