quarta-feira, 12 de maio de 2010

Agonia no meio do mercado

Privatizaram o tempo
me privaram de parar
o mecânico movimento
privatizaram meu jeito de ver.

Todas as manhãs me debato
entre dormir ou ganhar dinheiro
trabalhar menos uma hora sem fome
entorpecer mais uma hora sem sonho.

Privatizaram o amor
e dele fizeram o atalho perfeito
pra fugir de mim mesmo
e em mim conter tudo que não sei.

Privatizaram meus passos
os caminhos e direções que em vão vou seguindo
cortaram as asas dos pensamentos
e taparam a estrada para o que há de vir.

Privatizaram meus sentidos
compraram o direito de me fazer ver
como um messias debochado anunciaram
que o céu e o inferno é questão de investimento.

Privaram meus medos
meu prazer, meus anseios
e de tanto privatizar
nesse poema só falta o preço.

E assim estamos seguindo
vendendo ou comprando
enquanto o mundo nos consome
e nosso ânimo nos abandona.

Buscamos ser nós mesmos
E no meio do gado permanecemos
Comemos do pasto que nos deixam
E esperamos o abate desatentos.

Coisa triste essa sobrevida
que de outras vontades sempre depende
se ao patrão servimos, somos bem-vindos
se não, somos jogados à nossa sorte.

Mas não se tardam a ouvir
por todos os lados
os gritos invendáveis
dos corações inquietos.

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