sexta-feira, 2 de abril de 2010

Memorial do quarto escuro

E assim eu
sozinho e mudo
sem saber
servia ao mundo.

Das bordas surdas
do meu quarto escuro
meu grito calava
por medo de romper
uma suposta harmonia
uma pretensa ordem
as leis divinas
o bem comum.

E mesmo obediente
imóvel e amável
no chão dos meus dias
me despedaçava.

E mesmo crente
amável e imóvel
rezando na febre
pra algum deus me colar.

Eis que à meia-noite
de uma noite qualquer
gerada ao longo
de tantas outras noites
abri a porta e gritei
transbordando de minhas fissuras.

Janelas se abriram
faces suspensas
silêncios pálidos
confessados meus pecados.

E qual foi o meu espanto
tão logo descobri
não eram meus os pecados
mas do mundo aos pedaços
diante de nós a ruir.

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