Um eclipse recobre minha face
as pálpebras pesam encharcadas
Nina Simone me acompanha de perto
e eu sou só um momento quieto.
Mas sei bem o atropelo aqui dentro
meu peito parece uma cova de areia movediça
e o braço que pode me tirar daqui a tempo
é o meu mesmo, que sacode aflito.
De quantas revanches se faz uma história
até quando um cão feroz me tomará os olhos
é numa espiral de dor e receio que desço
nas assustadoras profundezas do que estou sendo.
Poderia um encontro não terminar em luta
haveria algum modo de ser verdadadeiro
e contudo, não ser uma verdade solitária
Saberei um dia amar levemente?
Escorrego pra vala dos meus pesadelos
entre interrogações que não controlo
pois desde sempre estão aqui
e é pouco a pouco que as enxergo.
Escorro da minha altivez de adulto
pro porão onde um dia fui criança
entre brinquedos e abandonos
uma lágrima enfim se lança.
A lágrima seca, a palavra falta
o eclipse prossegue inabalável
o sol se pôs em mim há algum tempo
e é de noite e no frio que agora eu sigo.
Já não sorrio abundantemente
meu corpo geme, meu ânimo pesa
ensaio alguns passos próprios
que já não é o vento que me leva.
Como dói esta noite
este deserto gelando meu peito
aprender o tempo é árduo
mas com ele virá o sol que desejo.
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