sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Noturno

Um eclipse recobre minha face
as pálpebras pesam encharcadas
Nina Simone me acompanha de perto
e eu sou só um momento quieto.

Mas sei bem o atropelo aqui dentro
meu peito parece uma cova de areia movediça
e o braço que pode me tirar daqui a tempo
é o meu mesmo, que sacode aflito.

De quantas revanches se faz uma história
até quando um cão feroz me tomará os olhos
é numa espiral de dor e receio que desço
nas assustadoras profundezas do que estou sendo.

Poderia um encontro não terminar em luta
haveria algum modo de ser verdadadeiro
e contudo, não ser uma verdade solitária
Saberei um dia amar levemente?

Escorrego pra vala dos meus pesadelos
entre interrogações que não controlo
pois desde sempre estão aqui
e é pouco a pouco que as enxergo.

Escorro da minha altivez de adulto
pro porão onde um dia fui criança
entre brinquedos e abandonos
uma lágrima enfim se lança.

A lágrima seca, a palavra falta
o eclipse prossegue inabalável
o sol se pôs em mim há algum tempo
e é de noite e no frio que agora eu sigo.

Já não sorrio abundantemente
meu corpo geme, meu ânimo pesa
ensaio alguns passos próprios
que já não é o vento que me leva.

Como dói esta noite
este deserto gelando meu peito
aprender o tempo é árduo
mas com ele virá o sol que desejo.

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